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A Hipnose como instrumento clínico

A Hipnose como instrumento clínico

A hipnose científica nasceu com James Braid (1795-1860), embora já muito antes ela fosse utlizada sob outras designações e com outros procedimentos, frequentemente envoltos em mistério, como é o caso de Mesmer (1734-1815) que pelo seu método conseguia resultados que os médicos da época não conseguiam e nem explicavam; o que enfureceu a classe médica e acabou por banir a técnica das intervenções consentidas.

No século XIX, James Esdaile (1808-1868), cirurgião, realizou cerca de 3.000 cirurgias utilizando anestesia por hipnose, contudo, devido ao facto de terem à época surgido os primeiros químicos anestésicos, o seu método não teve a projeção que merecia. De salientar, porém, que um grande número de pessoas morreu em salas de operação pela falta de prática com os químicos utilizados para anestesia, coisa que jamais aconteceu com a hipnose.

Um dos fatores que dificultou a sua aceitação foi o tipo irregular de técnicas indutivas do transe que então se utilizavam. De um modo geral estas técnicas baseavam-se no cansaço extremo do sistema nervoso, pelo incómodo, pela surpresa ou pelo medo, levando o sujeito a refugiar-se no transe hipnótico. Clarões súbitos e intensos, sons inesperados e assustadores, movimentos ou convergências oculares monótonos e cansativos, ou até restrições circulatórias, faziam parte destes métodos usados, o que se tornava desagradável para o paciente e pouco credível para a ciência e para a imagem do clínico.

Na verdade, só na segunda metade do século XX, com a significativa mudança introduzida por Milton Erickson (1901-1980), a hipnose saiu definitivamente da sombra e conquistou o seu lugar no meio terapêutico. Profundo estudioso deste assunto e com um talento natural e invulgar para a sua prática, Erickson, psiquiatra norte-americano, desvendou grande parte dos até então segredos da hipnose, tornando-a acessível à mentalidade académica.

Numa época em que a interação mente-corpo começava a ganhar rapidamente vulto e surgiu a disciplina da psicossomática, os procedimentos hipnóticos tornaram-se prática aceite um pouco por consultórios de todo o mundo. A sua utilização que antes era sobretudo vocacionada para a supressão de sintomas ou para a libertação de memórias recalcadas, passou a direcionar-se para aspetos de aprendizagem e mudança, vindo a contribuir assim de forma decisiva para a cura terapêutica, já não só no âmbito da perturbação mental mas também no de muitas doenças físicas do tipo funcional.

Hoje, algumas das perturbações onde a hipnose clínica pode revelar-se de grande valia são:

  1. a) A nível disfuncional (perturbações onde não existe lesão ou comprometimento de determinado órgão):
  2. Disfunções neurológicas: Enxaquecas, dores de cabeça crónicas, certo tipo de tonturas e vertigens, zumbidos, etc.
  3. Disfunções cardiovasculares: Tensão arterial essencial e certas arritmias cardíacas.
  4. Disfunções digestivas: Gastrites, dispepsia, obstipações, certas diarreias crónicas, etc.
  5. Disfunções respiratórias: Asmas, rinites alérgicas, apneia do sono, etc.
  6. Disfunções dérmicas: Urticária e outras alergias, doenças de pele de etiologia emocional.
  7. Disfunções geniturinárias: Enurese noturna, certas incontinências, dismenorreia, tensão pré-menstrual, etc.
  8. Disfunções sexuais: Impotência psicológica, frigidez, vaginismo, ejaculação precoce, diminuição da líbido, etc.

 

  1. b) No tratamento de distúrbios psicológicos:

 

  1. Ansiedade, ataques de pânico, fobias, depressões, obsessões, etc.
  2. Toxicodependências e outros tipos de adições.
  3. Anorexia nervosa e bulimia.
  4. Perturbações funcionais do sono.

 

  1. c) Em obstetrícia:
  2. No alívio da hiperémese gravídica (vómitos da gravidez).
  3. Na disciplina alimentar da gestante, evitando obesidade.
  4. Na prevenção da hipertensão.
  5. Na promoção do parto sem dor.
  6. Na prevenção da depressão pós-parto.

 

  1. d) No auxílio à aprendizagem:
  2. Aumentando a motivação e a capacidade de memorização.
  3. Promovendo rotinas de estudos.
  4. Reduzindo o stress.

 

  1. e) No ajustamento e desempenho pessoal.

 

  1. Facilitando a aprendizagem de novos interesses ou comportamentos.
  2. Corrigindo défices como insegurança e timidez, e estimulando traços de personalidade desejáveis, como autoconfiança, liderança, simpatia, etc.

 

Como se vê a hipnose, apropriadamente aplicada, pode ser extremamente útil em muitas vertentes do funcionamento humano, sem o risco de sequelas ou efeitos secundários. Contudo, a pouca informação de que as pessoas dispõem e, sobretudo, a má informação, acabam por restringir muito o acesso a esta terapia.

 

Ainda há quem acredite que o sujeito hipnotizado perde o total controlo sobre si mesmo para ficar à inteira mercê de quem o hipnotize. Nada mais falso! Na verdade, a pessoa ganha um supercontrolo sobre si mesma, o que lhe permite cumprir as sugestões do hipnotizador uma vez que as aceite. O estado conhecido como de hipnose é um potente intensificador da memória, da vontade, da perceção e até da capacidade regenerativa. Muitas experiências levadas a cabo nas últimas décadas atestam isso.

 

Por outro lado, ninguém perde a consciência em estado de hipnose. Pode acontecer, o que é raro se não for sugerido, que não se lembre de partes ou da totalidade da sessão, mas mantém-se sempre tão consciente e lúcido ao longo dela que lhe é impossível aceitar uma sugestão que vá, de algum modo, contra os seus princípios ou contra a sua vontade.

 

Quanto à questão de quem pode ou não ser hipnotizado poderemos dizer, com Erickson, que sendo o estado de hipnose um estado normal, experimentado em certo grau, de forma espontânea, por todos nós no nosso quotidiano (como quando nos absorvemos na leitura de um livro de molde a desligarmo-nos dos estímulos exteriores; conduzimos automaticamente o nosso automóvel sem nos apercebermos do tempo passado ou dos quilómetros percorridos; etc.), toda a gente pode ser clinicamente hipnotizada, desde que a isso se disponha.

 

Evidentemente que, tratando-se de um método terapêutico, cabe ao clínico decidir sobre a sua utilização e propô-la ao paciente, fornecendo-lhe a informação indicada e acertando com este os objetivos a alcançar, de modo a não deixar quaisquer dúvidas; tal como deve ser feito com qualquer terapia.